sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

A verdadeira historia de Katrin Malen

Indonésia 1948 Após uma intensa reforma, o hospital infantil de Santem, iria ser reaberto. Passou por um forte incêndio no ano anterior, cujas causas até hoje são desconhecidas. Kur Hants um conceituado fotógrafo alemão, entrou sozinho no prédio para registrar as mudanças do local e fazer uma matéria sobre a renovação do prédio após a tragédia. Caminhou por vários andares, mas ao chegar ao último sentiu algo estranho, estava frio e sentia como se algo o observasse, mesmo com maus pressentimentos continuou seu trabalho. Ao focar sua câmera para uma das portas que davam acesso à ala psiquiátrica, notou uma mancha na lente da câmera, ao limpá-la percebeu que não havia nada ali. Ele movimentava seu equipamento, e a sombra parecia imóvel. Kur nunca havia passado por isso, pensou se tratar de alguma brincadeira continuou a fotografar. Quando estranhos barulhos, que se assemelhavam de uma menina se debatendo contra a porta, começaram a ficar intensos, Kur correu pensando ser alguém em apuros. Kur abriu a porta, algo violentamente atravessou seu peito, perfurando seu coração. A câmera caiu e por muita sorte não se danificou.

Cidade de Santem 1946 Enila, Ceron e Katrin formavam uma família feliz, moravam em um humilde sítio, que com o avanço da cidade estava ficando cada vez menor e a situação financeira deles ficava cada vez pior. Katrin gostava muito de seus pais, era uma menina encantadora de apenas 11 anos. Brincava sempre sozinha com os poucos animais da fazenda. Enila era uma mulher muito justa e batalhadora, sempre conseguiu manter o equilíbrio na casa, mesmo passando por tantas dificuldades. Depois de alguns meses a situação começou a se complicar, era época de seca, as plantações estavam morrendo e a única solução encontrada por Ceron foi vender um de seus cavalos. Era uma tarde nublada Ceron amarrou o animal numa carroça, consigo levou algumas armas e pólvora para tentar vender no mercado da cidade. Katrin pede para que ele traga uma boneca que ela tanta desejava, pois seu aniversário estava muito próximo. Muito triste e com pena de sua filha ele diz que irá tentar realizar o sonho da menina. Várias horas se passaram, começou a trovejar, Ceron retornava para sua casa. Conseguiu vender apenas o cavalo, não achou comprador para o restante do material que levava. Katrin avista seu pai, vindo pela estrada, muito contente e aguardando ansiosa por seu presente, corre e avisa sua mãe. As duas aguardam na porta da residência, quando um forte raio cai pelas redondezas, o som do trovão foi tão forte que fez com que o cavalo se assustasse. Ceron perdeu controle das rédias, em pânico o animal tenta fugir, mas continuava preso à carroça. Katrin e sua mãe tentaram correr para ajudar, mas a carroça vira, uma pequena faísca é produzida, acidentalmente a pólvora se espalha, causando assim uma enorme explosão. Ceron gritava muito, seus pedidos de ajuda podiam ser ouvidos à distância. Mãe e filha nada puderam fazer a não ser assistir a morte dele. Alguns objetos que estavam na carroça foram arremessados com a explosão, dentre eles estava a boneca que Katrin tanto desejava. Intacta, a menina encontra e abraçada ao seu novo brinquedo fica paralisada e parecia não acreditar que havia perdido seu tão amado pai. As chamas arderam por mais de uma hora e se alastraram pelo capim seco, muitas pessoas tentaram ajudar. Nada se salvou a não ser a casa onde elas moravam. Depois de algum tempo, Enila recebeu uma proposta de venda daquele local onde queriam construir um grande hospital. Sem pensar muito aceitou. Compraram uma casa no centro de Santem e com o restante do dinheiro poderiam viver sossegadas, já que aquele local era muito valioso. Após a morte de seu pai Katrin passou a ser uma menina triste e ainda mais solitária, pois pouco falava e nunca mais se separou do ultimo presente que recebeu dele. Apenas um cachorro foi levado para a casa nova. A mudança foi difícil para as duas, Katrin sofreu aos prantos entrou em sua nova moradia. Desde então seus trajes passaram a ser pretos, se fechou para o mundo. Renegou toda a ajuda que lhe foi oferecida. Enila preocupava-se e seu único consolo era pensar que tudo aquilo não passava de uma difícil fase. Um ano depois... Katrin, nunca saia de casa, isto fez com que sua pele ficasse extremamente clara e pálida. Todas as noites, Enila escutava Katrin conversar com alguém e ao espiar constatava que ela tinha a boneca como melhor amiga. Numa noite, algo de estranho aconteceu, Katrin chorava muito e chamava por seu pai. Pensando em se tratar apenas de mais um sonho, Enila corre para ver o que estava acontecendo. Assustou-se ao encontrar a boneca suja de sangue, Katrin continuava a gritar, sua mãe a acalma e depois a questiona sobre a boneca, sem obter nenhuma resposta recolhe o brinquedo de sua filha e vai para fora tentar limpar. Quando abriu a porta dos fundos, encontrou o cachorro morto, seu peito perfurado e com um vazio no local do coração. Enila ficou apavorada com a cena, num primeiro momento pensou ter sido obra de algum assaltante ou pessoa mal intencionada. Katrin acalma-se e vai dormir. Devido ao susto, Enila nem se importa com a boneca suja, limpa e devolve para sua filha. A notícia se espalhou e todos pensavam ser algum maníaco rondando a vizinhança. Desde este dia a vida das duas tornou-se atormentadora, noite após noite, acontecimentos estranhos começaram a ocorrer na humilde casa. Armários abriam misteriosamente, objetos desapareciam e sons estranhos deixavam o ambiente aterrorizante. Enila não sabia mais o que fazer, sua única saída foi pedir para que sua irmã e sobrinha viessem ficar por um tempo na casa delas, pois com mais pessoas elas ficariam seguras. Por dois meses a situação ficou calma. O ano já era início do ano de 1947, o novo hospital da cidade iria inaugurar, muita expectativa rondava aquele povo, pois grande tecnologia foi utilizada naquele local. Katrin continuava sendo a mesma menina calada e séria de sempre, nunca havia falado mais do que duas palavras com sua prima Malina, que tinha a mesma idade. Malina sempre quis brincar com a boneca de Katrin, mas sempre foi rejeitada por ela. Num domingo, todas vão dormir logo cedo. No meio da noite Enila sente um cheiro de fumaça, se levanta e depara-se com sua cozinha em chamas. Todos os vizinhos acordam e correm para ajudá-la. Próximo à porta de saída encontram a boneca de Katrin, levemente queimada, mas sem grandes estragos. Enila estranha e decide jogar o brinquedo fora. Após passar o susto, todos voltam a dormir. No dia seguinte, Enila encontra Katrin dormindo com a boneca que ela tinha jogado fora. Enila cala-se e começa a desconfiar de sua filha, pois ela era perturbada e misteriosa. Em um dia que Katrin estava em outro cômodo da casa, Malina pega a boneca de sua prima e começa a brincar. Katrin retorna e encontra sua prima com a boneca. Revoltada, pela primeira diz uma única frase. "- Você irá se arrepender por isso!" Malina solta o brinquedo e vai de encontro à sua mãe. Naquela noite daquele mesmo dia, novos acontecimentos estranhos tiveram início desta vez quem gritava muito era Malina que dormia no mesmo quarto que Katrin. Enila e sua irmã correm para ver o que estava acontecendo. O choque foi grande ao ver Malina morta e também com um buraco em seu peito. O olhar de Katrin era intenso, ficou parada em pé com a boneca em sua mão direita olhando para o corpo da menina. Suas mãos estavam sujas de sangue assim como a boneca. Enila não conseguia acreditar que sua filha havia matado sua própria prima. Espanca a menina, que não teve nenhuma reação. Katrin permaneceu dois meses acorrentada na cama, até que o novo hospital fosse aberto ao público. A mãe de Malina foi embora e nunca mais deu qualquer notícia. Enila chorava muito, mas internar Katrin era a única solução. A boneca foi mais uma vez retirada das mãos da menina. Já internada no hospital, Katrin recusava-se a usar as roupas dos internos e continuava com seus trajes pretos. Mais um mês se passou. Katrin estava piorando a cada dia, queria de qualquer forma sua boneca de volta. Os médicos acharam melhor que ela tivesse seu desejo realizado. Enila assim o fez, no dia da visita quis entregar pessoalmente e ficar a sós com ela. Depois de uma hora, os médicos acharam estranho o silêncio e a demora e abriram a porta da sala: Katrin havia matado sua própria mãe e com as próprias unhas arrancou seu coração e comia como se fosse um saboroso doce. Os médicos ficaram abismados com o que viram. Katrin foi novamente amarrada e sedada. A notícia se espalhou, todos na cidade temiam a menina e principalmente sua boneca, pois muitos acreditavam ser um objeto amaldiçoado. Mais dois meses se passou, a aparência de Katrin era horrível, com muitas olheiras, cabelos negros e compridos. Os médicos e enfermeiras a temiam, eram poucos os que chegavam perto dela. Toda a equipe achou por bem retirar novamente a boneca de suas mãos. Neste dia a situação se complicou. Katrin dava gritos, e negava-se a entregar seu brinquedo. Mesmo lutando, a boneca foi levada para o incinerador. No exato momento em que foi jogada no fogo, o prédio do hospital também começa a arder em chamas. Em segundos o fogo se alastrou, a ala das crianças foi atingida, ninguém conseguiu fazer nada. Centenas de pessoas morreram naquele dia. Katrin também foi carbonizada, poucos se salvaram. Mesmo com a grande tragédia, muitos se alegraram ao saber que Katrin havia morrido, pois assim davam por encerrada as ações macabras daquela menina.

Um amigo de Kur, estranha a demora de seu amigo, ao procurar por todos os andares do hospital, encontra sua câmera caída e logo em seguida seu corpo, com uma grande perfuração no peito. As fotos de Kur são reveladas, mas o temor foi enorme ao constatarem a presença de uma menina vestida de preto na foto. Muitos estudiosos se interessaram pelo assunto e acabaram loucos e internados em clínicas e hospitais onde juram ver a mesma menina da foto. Os moradores de Santem, afirmam que o espírito de Katrin ainda vive. A ala onde ela foi internada acabou sendo desativada. A lenda de Katrin espalhou-se pelo mundo, sua foto foi julgada como montagem e a verdadeira história desapareceu com o passar dos anos. O único mistério não revelado e nunca descoberto, foi o poder que sua boneca exercia, mas ela nunca passou de um simples brinquedo. Katrin era má e a morte de seu pai fez com que nela brotasse poderes psíquicos que eram capazes de alterar o curso natural da vida. Seu espírito permanece imortalizado em sua única foto, Katrin ainda vive na mente das pessoas que a observam por muito tempo.

Segue abaixo as fotos tirada por Kur.

A casa do lago

Yara estava realmente apertada para ir ao banheiro. Estacionou seu carro na garagem, abriu a porta e saiu praguejando contra a vontade insuportável de urinar, nem se importando em fechar a porta ou desligar o rádio que guinchava aos acordes alucinados da guitarra de Jimi Hendrix. Ela e o marido estavam passando alguns dias em sua casa no lago, que fica em uma região praticamente desabitada no interior do estado. Nessa época do ano não havia movimento nenhum por perto, e ficaria assim por alguns meses, até que chegasse a época das férias escolares, e era exatamente isso o que eles estavam procurando quando decidiram passar uns dias na casa do lago. Eles queriam uma espécie de segunda lua-de-mel. Ela acabara de voltar do supermercado e achava que se demorasse mais um segundo para ir ao banheiro não agüentaria e acabaria urinando nas calças. A porta da sua casa parecia estar a anos luz de distância e ela correu desajeitada, apertando as pernas. Se não estivesse tão desesperada para ir ao banheiro, talvez tivesse notado o detalhe um pouco inquietante: a porta da entrada não estava trancada. Ao invés de reparar nisso, ela quase derrubou a porta ao entrar, atravessou o hall de entrada em direção ao banheiro do andar de baixo, que ficava depois da cozinha, nos fundos da casa. Parou de repente porquê escutou um som estranho vindo da cozinha. Estava parada no corredor, entre a sala de estar e a própria cozinha, a respiração ofegante, a vontade de urinar cada vez mais insuportável. Sua calcinha já estava úmida de gotas de urina que escaparam do seu controle, mas o medo a manteve paralisada e atenta ao som que ouvia. Era baixo e aterrorizante, mas era um som que ela conhecia muito bem. Era o som de faca cortando carne. Ou melhor de faca "destrinchando" carne. Conhecia esse som muito bem desde os seus 18 anos, porque seu marido Tony era o açougueiro do bairro onde moravam. Mas não podia ser ele na cozinha. Há poucas horas ele tinha saído para pescar no lago, e quando ele saia para pescar, levando sua embalagem com seis cervejas dentro de um isopor, ele só voltava ao anoitecer para o jantar. Avançou mais um pouco, o mais silenciosamente que conseguiu, apertando as pernas para conter sua vontade de ir ao banheiro, e tentou ver do lugar onde se encontrava se conseguia avistar quem estava na cozinha. Encostada no batente da porta, ela se encolheu e conseguiu ver sem ser vista: era um homem, completamente estranho. Ele estava de costas para a porta da cozinha, debruçado sobre a mesa, na frente do que a princípio parecia ser um boi inteiro nadando em sangue. As paredes, janelas e todos os eletrodomésticos e demais utensílio da cozinha estavam encharcados de sangue. O homem se inclinou e enxugou a testa com a manga do paletó, um gesto peculiar de quem esta suando e cansado do trabalho duro. O medo que até então estava só esperando um empurrãozinho para começar a dar sinal de vida se manifestou, porque agora que ele se inclinou ela pôde ver que, afinal de contas aquilo na mesa sendo retalhado não era um boi. Não, não era boi coisa nenhuma e sim uma pessoa, e estava usando botas de cowboy, muito parecidas com o par que seu marido tinha, aquele que ela lhe deu de presente no Natal passado e que ele sempre usava quando ia pescar no lago. Sentiu um líquido quente escorrer pelas pernas e um alívio repentino na bexiga, e notou sem muito interesse que finalmente urinara nas calças. Mas isso não era o mais importante agora. O importante mesmo era que esse camarada que estava ali na sua cozinha, usando a faca Gynsu de seu marido cortar carne, fazendo seja lá o que for com uma pessoa, e por favor meu Deus, que essa pessoa não seja o Tony, não notasse que ela estava ali, pelo menos até que ela chegasse ao seu carro na garagem e... Mas no momento em que ela pensou em se virar cautelosamente e sair, como se o homem tivesse conseguido ler seus pensamentos, uma voz terrível, rouca e cadavérica, como se saída da boca de um defunto, falou calmamente, sem que o homem sequer se virasse ou interrompesse o que estava fazendo: - Sei que você está aí. Ouvi o barulho do carro chegando e além disso você esqueceu de desligar o rádio. Está ouvindo? Gosto dessa música. Lá fora, o rádio de seu carro continuava tocando música muito alta, só que as guitarras de Jimmy Handrix agora foram substituídas pelo som dos The Doors tocando People are Strange. Ele começou a cantarolar a música e se virar bem devagar... Yara gritou quando viu seu rosto. Qualquer um gritaria. Ele era totalmente deformado, o rosto parecia mais uma máscara do dia das Bruxas, com dentes podres e lábios arreganhados em um sorriso hediondo. Mas o que a fez gritar não foi a sua deformidade, mas sim o que viu em seus olhos: loucura e maldade. Seus olhos eram cruéis, e irradiavam um ódio contido por tudo que fosse vivo. Sua boca estava suja de sangue e ela notou com crescente horror que ele havia lambido o sangue que escorria do corpo. Ele veio em sua direção e ela ainda tentou correr, mas ele agarrou-a pelos cabelos e puxou-a pra si, dando uma gargalhada terrível. Ela tentou fugir golpeando e chutando a esmo, mas ele era muito forte, parecia que tinha uma força sobrenatural. Tentou gritar, mas quando abriu a boca levou uma pancada na cabeça e desmaiou. E mesmo que ela tivesse conseguido gritar, quem a ouviria? ************** Quando acordou, horas depois, estava amarrada na cadeira de sua mesa de jantar, totalmente imobilizada e amordaçada. Sua cabeça não podia se movimentar para nenhum lado, apenas seus olhos se mexiam e olhavam ao redor, apavorados. E, coisa estranha, seus cabelos estavam molhados e ela sentia um desconforto na parte superior da cabeça, bem no centro. Tentou soltar as mãos. Impossível. Estava em uma posição bastante desconfortável e sem nenhuma chance de se mexer ou se soltar. Pelo pouco que podia ver, parecia que estava sozinha. Mas depois notou que não, não estava sozinha. Sim, finalmente pode ter certeza de que era seu marido quem estava na mesa. E agora o que ela via na sua frente era o que restou dele, arrumado cuidadosamente em sua poltrona preferida. O homem, ou seja lá o que era aquilo, retalhou seu marido inteiro, e depois tentou colocar tudo no lugar novamente, só que de uma maneira bem grotesca. A barriga estava toda aberta, expondo os órgãos internos, mas ela pode notar que faltava boa parte deles. Os braços e parte das pernas foram arrancados e pregados na parede. As orelhas e os olhos também foram arrancados e jaziam espalhados pelo chão. Ele colocou uma peruca loura na cabeça do cadáver, e vestiu uma saia que ela não reconheceu como sua. Passou batom nos lábios, imitando um sorriso de palhaço e nas suas mãos tinha um cartaz escrito: "Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura, o pior pecado é a Luxúria". O desconforto na sua cabeça foi aos poucos ficando mais intenso. Depois de muito tempo ela percebeu que eram gotas que caiam na sua cabeça. Talvez algum cano tivesse estourado bem em cima dela. Depois ela notou que na parte da cabeça em que caiam os pingos não havia cabelos. Isso era certeza, porque ela podia sentir as gotas caindo diretamente sobre seu couro cabeludo e incomodando muito. Horas se passaram. Agora as gotas que caiam a todo o momento na sua cabeça pareciam ser feitas de chumbo. Tentando freneticamente se livrar das cordas, ela cortou os pulsos e se machucou inutilmente, sem conseguir se mover sequer um milímetro. A dor na cabeça estava ficando insuportável. Como ela não podia mexer a cabeça, as gotas caiam continuamente e num ritmo bem calmo, sempre e sempre no mesmo lugar... Ping, ping, ping... " Casal encontrado assassinado em casa. O açougueiro Antônio Marcos Ravel e sua esposa Yara Felix Ravel foram encontrados mortos depois de setenta e quatro dias, na sala de estar de sua casa de veraneio. Os corpos foram descobertos pelo vizinho, que veio passar as férias com a família e notando o cheiro que saía da casa, resolveu chamar a polícia. O Sr. Ravel foi encontrado na sala de estar, todo mutilado e retalhado, usando uma peruca e uma saia, maquiado de forma grotesca. Em seu corpo não restava uma gota de sangue. Sua esposa estava amarrada na cadeira da mesa de jantar, imobilizada, o assassino perfurou um cano bem acima da cabeça da vítima, fazendo com que gotas de água que caiam continuamente no mesmo local em sua cabeça, perfurassem seu crânio, levando a mesma a morte após vários dias de sofrimento e agonia. Ambos os corpos estavam em avançado estado de decomposição. O casal não tinha inimigos e eram pessoas honestas e trabalhadoras. Nada foi roubado e a polícia não tem pistas do assassino e nem do motivo de um crime tão brutal.

A lenda do Sim

Na rua deserta e umedecida pela fina garoa que caía, caminhava a passos largos o homem franzino conhecido como T. Sua pressa tinha um único motivo, não queria perder de forma alguma o jogo do Knicks, torcedor fanático que era. Fez o serviço com a destreza habitual já conhecida por seus clientes que o contratavam a peso de ouro, pagamento adiantado como de praxe, problema algum para quem escolhia um homem com tanto respeito no submundo. No caminho gabava-se de quão bom era, a encomenda fora mais fácil que pensava. Não havia motivo para tanta preparação para apagar Andy Baley, um burguesinho de merda metido em dívida de drogas. É claro que a coleta que tinha com as prostitutas de luxo facilitava, conseguia informações valiosas, e suas vítimas eram pegas por seguir sempre o mesmo roteiro: jogar nos cassinos, se entupir de drogas e depois trepar com algumas garotas em um hotel qualquer. Riu, ao lembrar-se do idiota se borrando todo, com a 45 enfiada até o talo na garganta. E a arma ainda quente, lhe aquecia confortavelmente a perna. Ao quebrar o primeiro quarteirão, deparou-se com alguns mendigos amontoados no beco, tentando vencer o frio com uma pequena fogueira. Passou sem ser molestado, o povo da rua conhece o perigo de longe, fareja a morte iminente como um cão ao seu alimento. Mas antes que pudesse deixar para trás o cheiro fétido e nauseante do local, teve seu braço segurado. Os dedos coçaram para sacar sua arma, mas se conteve e apenas com um movimento brusco puxou aquele que o abordara ao encontro dos punhos. Seus músculos relaxaram ao ver que era apenas uma velha, imunda e maltrapilha. - Não tem esmola hoje! - Na-Não quero esmolas moço. – disse a mulher pressionada no paredão gelado. – Quero apenas lhe dar um recado que o vento me trás. Ele riu. – Velha louca! Então conversa com o vento? Não seja tola! Hoje poderia ter sido seu último dia de vida. - Apenas escute a mensagem, moço. - Além de louca é burra? Não vê que ainda respira por pura benevolência minha? Tua sorte é que hoje estou sem tempo. Vá! Volte para o esgoto de onde veio. – disse ele batendo a cabeça dela contra a parede. A mulher, atordoada, saiu do caminho, mas antes que ele sumisse de vista, gritou: - Sim! Sim! A vontade dele era voltar e descarregar sua arma na cabeça da maldita mulher. Mas já era tarde e não podia perder o jogo. Seguiu para o metrô, que naquela altura estava completamente vazio. Sentou-se confortavelmente encostado na janela, duas estações e estaria enfim a poucos metros do bar onde freqüentava. Na parada da primeira estação entrou uma criança e sentou-se ao seu lado, T. estranhou ao ver o menino, o qual julgou ter no máximo dez anos, sozinho. - Garoto, não está fugindo de casa, está? O menino, branco como leite e trajado com um terno mal costurado, sequer olhou para ele. - Muito bem! Sua mãe deve ter lhe ensinado para não dar conversa a estranhos. Notando que o garoto não estava mesmo querendo papo, ou sofria de algum problema auditivo, virou-se para a janela. Sentiu um calafrio lhe percorrer a espinha, ao perceber que não havia no reflexo do vidro o pequeno companheiro de assento. Virou-se novamente para o menino e este com os olhos negros como a noite, berrou de forma descomunal. - SIMMMMMMMMMMMMMMMMMMM! Quase saltou do banco, e praguejou ao ver que estava sozinho no vagão. - Mas o menino, o menino... Foi tão real. Só podia ter cochilado... Mas fora tão real e tão... Tão... Assustador! Definitivamente aquela noite lhe parecia estranha. Queria chegar logo ao seu destino. Na saída do metrô, suas pernas ainda tremiam. – Porra, era só um garoto! Era só uma merda de pesadelo. Bruxa filha da puta, devia ter quebrado-lhe os dentes. Não! Não! Devia ter-lhe rachado a cabeça. No bar, enfim sentiu-se em casa, lá havia rostos familiares, por mais que T. fosse reservado, ali se soltava e trocava até algumas palavras com o balconista. Após o cumprimento amigável, foi servido com o velho Black Label de todas as noites, o gole desceu suave, seguido por um demorado trago no cigarro. E na tevê postada em um suporte no canto do bar, os Knicks entravam em quadra. Era um jogo decisivo, poderia levar seu time à tão sonhada decisão se passasse pelo Suns. Ele ficou tão preso ao jogo que pouco reparou (e foi o único no recinto que fizera isso) na loira de quase dois metros que adentrou no bar, trajando um tomara-que-caia preto. Mas essa não tirava os olhos dele, e com um gesto chamou o atendente do bar; este, após atendê-la, voltou ao balcão e sussurrou no ouvido de T: - Amigo, desculpe atrapalhar, mas creio que seja por um ótimo motivo, aquela loira maravilhosa que está sentada ali no canto, pediu que lhe entregasse este bilhete. Ele pegou o bilhete, e apenas sorriu discretamente. Tomou o resto do uísque que havia em seu copo, e o abriu. Dessa vez o gole pareceu travar na garganta tamanha a surpresa da mensagem. Em escrita bem consolidada apenas três letras recheavam o pequeno papel: SIM. T. virou-se para a mulher, e ela retribuiu com um largo sorriso. Intrigado, levantou e foi em sua direção, mas fora atrapalhado por alguns jovens que se amontoavam para ver o jogo. E nesse piscar de olhos a perdeu de vista. Olhou apressadamente por toda a parte, e mesmo os olhos treinados de um assassino frio e cruel não puderam localizá-la. Ela havia partido, e agora ele não estava delirando, se é que em algum momento estivera. O pequeno bilhete ainda estava em sua mão. Sentiu-se parte de uma brincadeira piegas, ou será... Será que alguém notou o seu pequeno serviço noturno? Estava confuso. E aquela situação atiçou seu nervosismo de tal modo, que fora meio que “sem prestar atenção em nada” para o banheiro. (Mantenha o controle. Mantenha o controle. Ninguém pode detê-lo. Você é o melhor no que faz. O melhor!) O pequeno banheiro do Massive’s Night, não era diferente dos banheiros de bares de qualquer subúrbio. A luz fosca amarelada dava um ar ainda mais sujo ao lugar, o cheiro de urina velha, misturada com um desinfetante barato qualquer, ardia nas narinas de qualquer um que ali adentrasse. Abriu sua calça e aliviou-se naquele mictório mal-cheiroso. Antes de lavar as mãos, retirou algumas folhas de papel toalha para cobrir sua mão. Não queria se contaminar com bactérias vindas de “paus sebosos”. Abriu a torneira e encheu as mãos, lavando em seguida o rosto, repetiu isso por duas vezes, e com os olhos fechados tateou o porta-toalhas. Enxugou o rosto com o papel, e quando abriu os olhos não viu apenas sua imagem. Além do seu reflexo, havia no espelho, escrito a dedo no vidro pouco embaçado, a palavra SIM. Passou as mãos sob a cabeça raspada, para enxugar as pequenas gotas repousadas, meteu a trava na porta e sacou sua pistola, antes de conferir se havia mais alguém ali. (Vocês não vão me pegar! Não vão! Estouro seus miolos antes que respirem, antes mesmo que possam piscar) Guardou sua arma novamente e saiu do banheiro. Desconfiando de todos que ali estavam, pagou sua conta, deu uma pequena conferida no jogo e saiu apressadamente. Sua cabeça estava a mil com tudo aquilo, e ele só queria ir para casa. Em sua mente uma voz estranha começou a sussurrar: SIM! SIM! SIM! SIM! Ele, no desespero, começou a andar mais e mais rápido, e aquela voz martelava em sua mente, em um ritmo cada vez maior. Ao passar em frente a uma loja de eletrônicos, teve a impressão de ver em todas as telas a mesma mensagem. Com o susto atravessou a avenida, e distraído não percebeu o Maverick azul que dobrara a esquina em alta velocidade, seu corpo fora atirado com brutalidade e seu sangue coloria de vermelho a calçada cinzenta. Estava consciente e sentia que não ia escapar com vida dali, pensou na ironia do destino, morrer de uma forma tão banal, pois, para um matador de aluguel como ele, morrer assim era quase uma humilhação. Quem o atropelou nem sequer parou para prestar socorro, e ele ficou ali, estirado por um longo tempo, sentindo a morte chegar lentamente. Tempo suficiente para ver sua vida passar como um filme, desde a infância até aquela noite, quando após subornar o zelador do hotel, entrou no quarto 105, e encontrou seu alvo completamente distraído na banheira, ele aguardava sua acompanhante. Mas mal sabia que essa, além de não aparecer havia lhe entregado para seu executor. - Serviço de quarto... – disse T. apontando a arma para Baley - Q-Quem é você? - Você deixou alguém muito, mas muito aborrecido garoto. - Mas.. - CALE A BOCA! CALE A MALDITA A BOCA, OK? (silêncio) - Isso, assim está bem melhor rapaz. Agora onde eu estava? Ah sim! Você deixou alguém muito aborrecido, e essa pessoa me pediu que viesse dizer isso a você. Mas, sabe como é, não sou muito bom com as palavras. - Na-Não pelo amor de d... - CALE-SE! – enfiando a arma na boca do rapaz – Não sou bom com as palavras, e vou resolver do meu jeito. Vou mandar você para o inferno. Quando chegar lá, pergunte ao diabo se tem um lugar para mim... Nas ruas, as pessoas começavam a chegar aos montes, gritando, se abraçando. Os fogos coloriam o céu. O Knicks havia vencido. Mas para T. isso não faria diferença... Era o fim da linha para ele. E a mensagem tão repetida naquela noite agora fazia sentido.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Boneca Dara

Lendas da Boneca Dara Em 1995 estreou na Rede Globo uma novela chamada Explode Coração onde os personagens principais eram ciganos, dentre eles havia uma moça bonita chamada Dara que lia a sorte das pessoas na rua. Então na metade daquele ano, embalada no sucesso desta novela, a fábrica Estrela lançou uma boneca cigana chamada Dara. Bastava fazer uma pergunta e depois apertar na mão deste brinquedo, que o gravador de dentro dele, dizia respostas como: “vai dar tudo certo”, “não se preocupe”, “esta é a decisão correta”, etc. Minha família inteira passou o Natal, de 1995, na casa de praia da minha tia Euni. Então lá ganhei a boneca Dara de presente. Assim reuni meus primos, amigos e começamos a brincar com o meu novo presente. Desta maneira, fiz a seguinte pergunta e peguei no braço do brinquedo: - Terei um bom emprego? O gravador de dentro da boneca respondeu: - Tudo dará certo. Meu primo Rodrigo indagou ao brinquedo: - Serei rico? A boneca disse: - Não se preocupe. De repente, este garoto teve a seguinte idéia: - Vamos fazer a brincadeira do copo? Todas as crianças presentes concordaram. Desta maneira fui até a cozinha, peguei o copo e levei o objeto até o quarto. Depois pegamos um caderno e recortamos quadradinhos com todas as letras do alfabeto. Após isto realizamos uma oração. Então coloquei o dedo no copo e perguntei: - Tem alguém, aí? Nenhum espírito se manifestou. Meu primo Rodrigo e meu amigo Cleverson fizeram o mesmo ato e nada. Alguns minutos depois o copo se arrastou sozinho até a parede, bem ao lado da boneca, e quebrou-se. A noite chegou e dormi naquele mesmo quarto. A boneca Dara estava no chão, bem ao lado do beliche. No escuro tive a impressão de estar sendo observada pelo brinquedo, mesmo assim conseguir dormir. No dia seguinte fiz a seguinte pergunta à Dara: - Serei feliz no amor? Mas em vez da frase do gravador, escutei um ronco estranho: - Ron,Ron,Ron... No meio deste barulho havia um ruído muito parecido com os de chamas queimando. Contei o fato ao meu primo Rodrigo, que indagou à boneca: - Serei feliz? E um outro ruído estranho, acompanhado de barulho de chamas, surgiu de dentro do brinquedo: - On, on, on... Então Rodrigo exclamou: - Isto é o espírito do copo que entrou dentro da boneca! - Tenho certeza de que é uma alma que estava no inferno, que entrou dentro deste brinquedo, por causa do ruído de fogo. Fiquei com medo de Dara, mas não me desfiz dela no Litoral. No mesmo dia, subimos a serra e voltamos para Curitiba, onde dei a boneca para a neta de uma vizinha. Três dias depois vi a menina dando esta boneca para uma mendiga. Acredito que isto aconteceu porque algo estranho ocorreu com o brinquedo. Na volta às aulas comentei sobre o fato com uma amiga que gostava de misticismo. Minha colega disse que espíritos do copo, realmente, podem se instalar dentro de brinquedos. Além disto, ela comentou que existe a cigana Dara na Umbanda e que esta moça foi uma pessoa que teve a vida difícil, mas que era dotada de poderes sobrenaturais. Minha amiga, também explicou, que esta entidade não gosta de artifícios da baixa magia, como a evocação do copo, por exemplo e quando um brinquedo é batizado com o nome dela, a vibração desta cigana fica nele, por isto a entidade pode se enfurecer. Após esta explicação nunca mais quis saber da brincadeira do copo e nem de bonecas.